Formando o inovador

Para Reynaldo Gama, CEO da HSM e co-CEO da SingularityU Brazil, as vivências do momento atual ressaltam como a tecnologia pode potencializar uma mudança de foco na oferta e comportamento de demanda no mercado de educação

Thaís Monteiro

Trazida ao Brasil em 2019 por meio de uma parceria entre Singularity University e HSM, empresa do Grupo Ânima Educação, o campus SingularityU Brazil segue o objetivo de ser um fomentador do uso de tecnologias exponenciais para enfrentar grandes desafios do mundo. A universidade faz isso por meio de cursos de formação e educação continuada, com estratégia de olhar 3600 e customizada, colocando o aluno (seja ele do mundo corporativo ou público geral) no centro da sua educação. Para Reynaldo Gama, CEO da HSM e co-CEO da SingularityU Brazil, as vivências do momento atual ressaltam como a tecnologia pode potencializar uma mudança de foco na oferta e comportamento de demanda no mercado de educação, que funciona como uma mola transformadora de outros segmentos.

Meio & Mensagem — A instituição trabalha a tecnologia como um recurso importante para a resolução de desafios globais. Na educação, qual é o papel da tecnologia? O quão longe ela pode levar os sistemas educacionais, se bem aplicada?
Reynaldo Gama — Sempre gosto de citar uma frase do Peter Diamandis, fundador da Singularity University, na qual ele fala sobre abundância: “Quando penso em criar abundância, não se trata de criar uma vida de luxo para todos no planeta, se trata de criar uma vida de possibilidades. Se trata de pegar aquilo que era escasso, e torná-lo abundante”. Essa frase tem tudo a ver com este momento que estamos vivendo, no qual a tecnologia tem sido a peça fundamental para o desenvolvimento e continuação do trabalho seja nas companhias, seja na educação. Se pensarmos apenas pelo viés da educação, o principal papel da tecnologia é o da escalabilidade, de criar possibilidades e atingir mais pessoas, independentemente do lugar em que estejam e das diferenças socioeconômicas. É óbvio dizer que a educação é a base de uma nação — e é mesmo. É a educação que conseguirá resolver os grandes dilemas da humanidade, mas é com a tecnologia que democratizamos essas informações e ampliamos a disseminação e o alcance. A SingularityU Brazil lançou este ano os seus cursos online, em que os participantes têm a oportunidade de aprender sobre os conceitos da tecnologia exponencial e aplicar os aprendizados na prática, além de cursos focados em neurociências e nas habilidades para o profissional do futuro.

M&M — Qual é a sua avaliação sobre a transformação digital do segmento de educação?
Gama — Já se discutia muito sobre os impactos da tecnologia neste setor, mas sem dúvida a Covid-19 acelerou em cinco, dez ou 15 anos essa mudança. Daqui a cinco anos teremos uma noção ainda mais clara do caminho que percorremos. Porém, o mais importante dessa transformação foi a mudança dos indivíduos. Vimos uma mudança de mindset em seus principais atores: alunos e professores. Para os alunos, as aulas a distância possibilitam maior autonomia, despertando um novo senso de responsabilidade e permitindo o estudo cíclico. Já para os professores, a nova realidade trouxe outros desafios e oportunidades, uma vez que o modelo de aula teve que ser readaptado, não apenas digitalizando os conteúdos, mas trabalhando com novas ferramentas e metodologias, como vídeos, áudio, webinars e debates online. A HSM, junto com a Singularity University, fundou a SingularityU Brazil, que já estava preparada com várias soluções digitais, mas ainda havia resistência de alguns clientes — 70% dos cursos abertos e treinamentos para empresas eram presenciais. Com a pandemia, a entrega passou a ser 100% online. Claro que estamos vivendo um momento atípico, e o presencial ainda é importante, mas estamos aprendendo a consumir de forma diferente e conseguindo entender os benefícios nesta nova forma de aprender e ensinar. Por isso, tenho certeza de que o ensino híbrido, continuará no pós-pandemia.

“Esses estudantes precisam entender o impacto que podem causar na vida de comunidades e de pessoas, precisam pensar no coletivo e não mais só no individual”

M&M — Que lugar ocupa o Brasil dentre os países mais inovadores?
Gama — De acordo com o Índice de Inovação Bloomberg de 2020, realizado pela Bloomberg em janeiro deste ano, o Brasil está em 460 lugar no ranking dos países mais inovadores do mundo, perdendo uma posição em relação ao ano passado. Apesar disso, eu vejo o segmento de inovação positivamente e acredito que estamos indo no caminho certo. Esse resultado tem tudo a ver com o acesso à educação, pois o Brasil ainda educa suas crianças e jovens para serem colaboradores e não para o empreendedorismo, que é o impulsionador da inovação em qualquer país. Por isso, é tão importante tornar a tecnologia cada vez mais acessível e mostrar para esses jovens que eles são capazes de criar soluções que podem mudar a vida de centenas de pessoas e impactar positivamente todo um ecossistema. O Brasil tem caminhado muito nesta direção do empreendedorismo com o boom das startups e os espaços de inovação. A HSM e a SingularityU Brazil lançarão um hub de inovação em educação, conectando empresas e startups para fomentar o empreendedorismo no Brasil. O espaço promoverá iniciativas focadas em educação de forma a disseminar o conhecimento sobre a aplicação das tecnologias exponenciais nos negócios, e assim resolver os grandes desafios da humanidade e criar um futuro melhor e mais igual para todos.

M&M — Quais inovações acredita que pautarão o setor de educação nos próximos anos?
Gama — Uma das tendências que com certeza continuará é o ensino híbrido, esse mix entre o presencial e o online. Claro que a crise também mostrou muitos gaps no ensino do Brasil. Precisamos muito nos desenvolver neste sentido, principalmente no acesso igual para todos, mas com certeza este momento trouxe essas discussões à tona e nos permitirá caminhar para uma solução junto à tecnologia.

M&M — Uma das propostas da Singularity é oferecer educação customizada. Qual é a importância dessa estratégia para o ensino?
Gama — O grande objetivo da Singularity University é educar e oferecer aos líderes uma visão clara e profunda das principais tecnologias e tendências que permearão no mundo corporativo a curto, médio e longo prazos. Queremos que os líderes tenham uma visão 360° do seu negócio, mas também de todo o ecossistema em que estão inseridos. Por isso, é tão importante essa estratégia, pois cada negócio tem as suas peculiaridades que os tornam únicos. E, quando ofereceremos essa visão completa e todas as soluções, os executivos podem resolver os desafios-chave e apontar positivamente para o futuro dentro e fora das corporações.

M&M — O método de ensino da Singularity é diferente e coloca o aluno como mais ativo na sua educação. A metodologia de ensino dominante atualmente é ultrapassada?
Gama — De novo, a crise veio para mudar este cenário. Cada vez mais tem se discutido a importância de colocar os alunos no centro das decisões, oferecendo a eles uma educação integral, ou seja, trabalhando tanto o lado cognitivo como socioemocional. E, consequentemente, os tornando protagonistas e os empoderando como sujeitos ativos da sociedade. Com isso precisamos educar essas crianças e jovens para serem empreendedores, oferecendo ferramentas para que possam ajudar na transformação do País como um todo. Esses estudantes precisam entender o impacto que podem causar na vida de comunidades e de pessoas, precisam pensar no coletivo e não mais só no individual. A pandemia não me deixa mentir: esse é um caminho longo, mas acredito que estamos seguindo na direção correta.

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