“Performance para a empresa e progresso para a sociedade”

Antonio Batista da Silva Junior, presidente da Fundação Dom Cabral

Roseani Rocha

Ensinar estratégias de negócio, quando os negócios em si estão constantemente em ritmo acelerado de transformação é um dos grandes desafios de escolas corporativas como a Fundação Dom Cabral. Antonio Batista da Silva Junior, presidente da instituição, sediada em Belo Horizonte e que completa 45 anos em 2021, ainda alerta ao fato de que a natureza dessas mudanças não é mais restrita ao business em si mesmo, mas dizem respeito a uma mudança de paradigma, em que não basta mais às empresas serem agentes econômicos. No cenário atual, lembra ele nesta entrevista, elas também são vistas cada vez mais como “promotoras de bem-estar social”. E lidar com isso é outra das grandes missões que executivos e executivas que buscam apoio nos conteúdos de uma entidade como a FDC têm em sua agenda para os próximos anos.

Meio & Mensagem — A FDC ressalta que se renova há 45 anos. Essa renovação (para vocês e outros players do setor) está ficando mais difícil, dada a velocidade das mudanças na tecnologia, na sociedade e o fato de conteúdos educacionais se tornarem perecíveis mais rapidamente?

Antonio Batista da Silva Junior — Este é um grande desafio. As transformações na sociedade e no mundo das organizações estão em ritmo acelerado. Por exemplo, a sociedade não tolera mais os níveis de desigualdade e injustiça social e têm reivindicado maior compromisso das empresas e lideranças. Estamos vivendo uma mudança de paradigma: as empresas estão deixando de ser apenas agentes de produção econômica e passam a ser promotoras de bem-estar social. E as escolas de negócios têm um papel muito importante a desempenhar nesse novo contexto. Precisamos apoiar as executivas e executivos a exercerem esses novos papeis e acelerar o ritmo da mudança. Ou seja, queremos oferecer cada vez mais para a sociedade e ajudar a endereçar os grandes desafios da humanidade. Para isso, a FDC seguirá investindo em conhecimento, pesquisa, time e internacionalização. Tudo isso é importante para dar utilidade ao conhecimento gerado. Temos parcerias com importantes players educacionais globais e temos condições de trazer para o Brasil o que há de melhor no mundo e levar para o mundo aquilo que temos de melhor. Além disso, temos um time extraordinário, com muitas competências, cada vez mais plural e diverso, ousado, criativo. Costumo dizer que não fazemos educação como negócio, mas como paixão. Porque acreditamos que esse é o caminho para anteciparmos um futuro melhor para todos. Isso faz toda a diferença.

M&M — Como é que esse contexto todo deve influenciar o cenário de concorrência e o marketing das escolas daqui em diante?

Antonio Batista — Está sendo interessante viver esse momento que tem sido marcado pela chegada de novos players na educação executiva. A educação é um caminho de muita responsabilidade e de grande potencial transformador. Acreditamos que este é um bem fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos e das organizações. Tenho visto que as escolas estão investindo mais na comunicação com a sociedade e isso é muito bom. As marcas precisam dialogar e participar da vida social das comunidades em que atuam, sempre de forma coerente com sua proposta de valor e seus valores. Somente irão sobreviver ao século 21 aquelas organizações que conquistarem a legitimidade da sociedade para existirem. E, com as escolas, não será diferente. E, neste processo, a comunicação e o marketing são essenciais e estratégicos.

M&M — Falou-se, durante pandemia, o quanto a tecnologia foi necessária para manter o funcionamento das instituições de ensino. Além da conectividade em si, o que, em termos de ferramentas será mais relevante para o futuro do segmento de educação?

Antonio Batista — A tecnologia é uma importante aliada da educação e, no nosso caso, está nos ajudando a ampliar a nossa missão. Pois, estamos utilizando a tecnologia para incluir pessoas que tradicionalmente não tinham oportunidade de estudar em escolas de educação executiva. Em plena pandemia, lançamos o FDC — Centro Social Cardeal Dom Serafim para oferecer cursos de gestão e empreendedorismo para empreendedores populares, jovens em situação de vulnerabilidade social e lideranças de organizações sociais. Mas, tecnologia não é tudo. É preciso também inovar em metodologias educacionais. Na FDC, acreditamos que o indivíduo aprende de três maneiras: pelo conhecimento apresentado em forma de conteúdo, pelo desafio do mundo prático e pelo exemplo, ao observar seus pares, seus líderes e seus times. E, portanto, confiamos em um modelo híbrido de educação, que propicie a integralidade do processo de aprendizagem ao longo da vida da pessoa, o conceito de life long learning. Com isso, oferecemos uma educação que prepara executivos para gerarem resultados para suas organizações e cidadãos comprometidos com o progresso social.

M&M — Vocês têm foco na educação executiva. Quais são as principais demandas atuais e, especialmente de futuro, que as empresas e executivos brasileiros tentam atender/acompanhar ao procurar instituições como a sua?

Antonio Batista — No século 20 houve a primazia do resultado, da performance e da gestão. O século 21 é a vez da governança e da necessidade de integração entre performance e progresso: performance para a empresa e progresso para a sociedade. Com isso, a liderança continua sendo o conteúdo mais requisitado, mas com uma abordagem diferenciada. A liderança do século 21 precisa ser menos escrava da performance e mais agente do progresso. E isso tem estimulado demandas por temas ligados à gestão da mudança, diversidade, transformação digital e inteligência de dados. Observamos também que a tendência é o participante ser, cada vez mais, o protagonista do seu conhecimento. A sua jornada de aprendizado deve ser construída ao longo da vida, com uma combinação de soft skills e hard skills. Ele precisa enxergar a sua empresa além de seus muros.

M&M — Qual a importância da colaboração para o futuro do setor, uma vez que vocês mesmos dizem fazer parcerias com empresas e mesmo com outras escolas?

Antonio Batista — A FDC tem em seu DNA a construção de parcerias. Este é um de nossos princípios fundamentais. Temos parcerias com empresas, com escolas internacionais, entidades da sociedade civil. Atuamos em ecossistemas e esse é o nome do futuro. A pandemia acelerou essa tendência.

M&M — Que outras tendências importantes ressaltaria nos próximos anos, para o setor como um todo, além da colaboração?

Antonio Batista — A educação ao longo da vida, o protagonismo do aluno, modelos híbridos, construção de redes colaborativas, aumento da procura por desenvolvimento de soft skills, a valorização da ciência e o rigor acadêmico.

M&M — A FDC desenvolveu um programa em conjunto com a Yunus Negócios Sociais para capacitar intraempreendedores sociais e o mercado fala muito sobre ESG atualmente. Qual sua visão sobre a responsabilidade do setor de educação nessa frente para o futuro?

Antonio Batista — A educação executiva tem um papel fundamental, principalmente na formação de líderes conscientes de seu papel na sociedade. O mundo definiu 17 desafios da humanidade, que são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Todo negócio precisa endereçar, de alguma maneira, pelo menos um destes desafios. Temos que ter senso de urgência e, juntos, governos, sociedade civil e empresas construirmos novas formas de gerar riqueza e prosperidade social. No nosso caso, temos estudos, pesquisas e soluções educacionais para empresas, executivos, organizações não governamentais, empreendedores populares e jovens para anteciparmos esse futuro mais sustentável, que precisa chegar logo.

 

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