“Queremos reinventar o marketplace digital”

Andries Oudshoorn, CEO da OLX, avalia o papel das startups no processo de transformação do setor varejista

Por Fábio Vieira

CEO de uma das maiores plataformas online de compra e venda do País, a OLX, Andries Oudshoorn avalia o papel das startups no processo de transformação do setor varejista e fala sobre as inovações realizadas pela companhia em um trabalho interno que envolve cerca de 600 pessoas das áreas de produto, engenharia, design, marketing e dados, e que abrange também a unidade de negócio voltada ao mercado imobiliário ZAP+.

Meio & Mensagem — Como avalia o papel das startups na transformação do varejo e como a OLX tem contribuído para esse processo?
Andries Oudshoorn — Entendemos que as startups têm um papel fundamental no ecossistema de inovação para o desenvolvimento, a evolução e o crescimento do varejo e e-commerce do País. Este é um setor altamente dinâmico, sendo necessário o acompanhamento de tendências de mercado e consumo para levar aos usuários conveniência, facilidade e alta tecnologia. Aqui na OLX Brasil, a transformação digital faz parte da nossa trajetória. Com faturamento de R$ 873,1 milhões em 2021, alta de 28% em relação a 2020, temos como acionistas dois dos principais grupos globais de mídia e investimento em marketplaces: Prosus N.V. e a Adevinta Asa. E seguimos atentos aos movimentos do mercado com olhar local e global. Com a aquisição do Grupo ZAP por R$ 2,9 bilhões, concretizada em novembro de 2020, passamos a contar com duas unidades de negócios: OLX e ZAP+. Continuamos a investir na jornada dos nossos usuários sempre atentos às tendências para uma experiência ainda mais completa em nossas plataformas, contribuindo para a transformação do setor.

M&M — Em relação a outros países, como avalia o mercado brasileiro voltado à inovação no setor?
Andries — Apesar de o Brasil ser a décima segunda economia do mundo, o País ocupa a quinquagésima sétima posição no Índice Global de Inovação, segundo o levantamento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO, na sigla em inglês), divulgado em 2021 e que avaliou 132 países. Ou seja, há muito para avançarmos. Por outro lado, vejo que a inovação do nosso setor acelerou muito nos últimos dez anos. Nesse sentido, investimentos e movimentações são importantes para promover a evolução do setor no Brasil, principalmente neste momento de forte digitalização, sem nos esquecermos de seguir um crescimento sustentável. Somente com esse equilíbrio é que nos fortaleceremos rumo a uma potência de inovação. Aqui na OLX, queremos reinventar o marketplace digital e posicionar o País como um polo de inovação ligado ainda às novas formas de consumo.

M&M — Considerando esse mercado antes da chegada da OLX, quais eram as principais dificuldades enfrentadas pelos clientes?
Andries — A OLX chegou ao País há mais de 11 anos com o objetivo de desenvolver o mercado de compra e venda de usados de forma digital, que até então tinha pouca representatividade e não era escalável. Havia brechós para roupas e acessórios. Já os eletrodomésticos eram vendidos em lojas de conserto de produtos nos bairros, ou entre conhecidos. Já com a OLX, houve a democratização do setor por meio de uma plataforma acessível e gratuita para todos, transformando a relação entre quem queria vender e quem queria comprar com maior alcance e conexão, tangibilizando os ganhos. E a evolução desse cenário pode ser constatada na pesquisa Brasil Digital, realizada pela OLX, em 2020, na qual 71% dos consumidores apontaram que se sentem confortáveis para realizar compras no comércio eletrônico.

 

Andries Oudshoorn, CEO da Olx

Andries Oudshoorn, CEO da OLX (Crédito: Arthur Nobre)

M&M — Qual foi a principal transformação realizada pela OLX no mercado?
Andries — É justamente o estímulo à cultura da economia circular. Somos uma empresa 100% digital que já nasce trazendo disrupção ao mercado ao mostrar para os brasileiros o potencial de produtos usados e estimulando uma nova forma de consumo, mais consciente, desvendando o valor dos produtos de segunda mão. Destacamos os benefícios dos itens usados, que são mais baratos do que similares novos, possibilitando ainda renda extra para as pessoas e contribuindo para o meio ambiente. Em 2021, as transações de compra e venda de bens usados efetuadas por meio da OLX evitaram que cerca de sete milhões de toneladas de CO2 fossem emitidas na atmosfera, segundo o Second Hand Effect (SHE), estudo encomendado por nós ao Instituto Ethos.

M&M — Qual é a importância do investimento em marketing e comunicação para as startups do setor?
Andries — Esse investimento é essencial para qualquer negócio, independentemente de ser uma startup ou uma empresa de tecnologia já estabelecida. O marketing é uma vertente importante para ampliar a visão dos consumidores sobre o negócio de usados, contribuindo para conscientização relacionada à compra e venda de produtos de segunda mão. Queremos expandir a mensagem de que não é porque um produto é usado que ele não é novo para quem compra. E queremos ampliar essa narrativa para cada vez mais pessoas, sendo o marketing fundamental. Também investimos continuamente nas jornadas e análise de dados para apoiar os usuários a fazer a melhor compra ou venda, usando inteligência em CRM.

M&M — E nas ações voltadas para reforço de marca e captação de novos clientes?
Andries — O marketing tem um papel importante para além da captação de clientes. Realizamos ações que ajudam a nos posicionar e conscientizar os usuários para o mercado de compra de usados e hábitos da compra inteligente, reforçando questões ligadas à sustentabilidade e economia circular. Entre as iniciativas, lançamos, durante a pandemia, o “Reinventar”, em que reforçamos às pessoas a necessidade de consumir de forma mais inteligente e eficiente, e, por outro lado, a de também gerar renda extra vendendo itens não usados em casa para enfrentamento do cenário tão desafiador.

M&M — Para onde caminham as próximas transformações no setor?
Andries — Com os consumidores cada vez mais acostumados a comprar pela internet, as empresas de varejo precisarão continuar acompanhando essa tendência, estando abertas às novas tecnologias e investindo em novas soluções mais integradas, para tornar a experiência de compra do cliente mais eficaz, simples e segura. Isso abrange diversos pontos, como, por exemplo, suporte ao cliente, plataforma otimizada, segurança, logística e opções de pagamentos digitais. Aliás, este último representa um desafio para o segmento de itens seminovos ou usados. De acordo com a pesquisa Brasil Digital, realizada pela OLX em 2020, 51% dos entrevistados preferem pagar suas compras de itens de segunda mão em dinheiro vivo. O aumento da aderência dos consumidores de usados aos pagamentos digitais se faz necessário e temos como parte dos nossos planos ainda para esse ano a ampliação do nosso modelo transacional, por meio da Compra Segura.

M&M — Quais são os impactos no setor com a chegada do 5G e como a companhia tem se preparado para essa tecnologia?
Andries — As nossas plataformas vêm evoluindo na utilização de recursos de vídeos e tour virtuais, principalmente nas verticais de imóveis e autos. A chegada do 5G impacta positivamente nessas experiências e possibilita o desenvolvimento de dispositivos mais avançados e completos. Com a expectativa de uma conexão mais fluida e estável, provavelmente veremos uma evolução mais acentuada da Internet das Coisas e inovações em inteligência artificial. Hoje, usamos IA como recurso que sugere preço de venda de automóveis e em sistemas de segurança que ajudam a combater possíveis fraudes. Com o 5G, o tráfego de dados será maior e contribuirá para um avanço na IA, o que deixará seus recursos ainda mais precisos.

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