Sua carteira com um clique

Anderson Chamon, fundador e vice-presidente de produtos e tecnologia do PicPay, comenta os planos para transformar a empresa num super app investindo na combinação de features sociais com o uso do dinheiro, entregando a melhor interface de experiência financeira

Ana Carolina Huertas Antonio

Criado em 2012 como uma das primeiras carteiras digitais com QR code, o PicPay testava o que, atualmente, é um ato cada vez mais corriqueiro na rotina da população brasileira: o envio de dinheiro entre pessoas e a realização de pagamentos através de smartphones. Num cenário crescente de fintechs e de implementações de novas regulamentações de serviços digitais pelo Banco Central, Anderson Chamon, fundador e vice-presidente de produtos e tecnologia do PicPay, comenta os planos para transformar a empresa num super app investindo na combinação de features sociais com o uso do dinheiro, entregando a melhor interface de experiência financeira.

Meio & Mensagem — O que mudou da empresa que surgiu em 2012 para o PicPay atual?
Anderson Chamon — O mercado está mais competitivo. Até dois anos atrás quando me perguntavam quem era o concorrente do PicPay, eu tinha dificuldade de responder. Em 2012, pouco se falava a respeito de pagamentos pelo celular, não tínhamos um paralelo nem quando pensávamos fora do Brasil, até o termo fintech surgiu depois e a revolução na China com o Wechat não tinha acontecido ainda. Naquele momento, testávamos a aderência do produto e o quanto o mercado estava pronto para ele. Nossa grande proposta era transformar a forma como as pessoas faziam pagamentos. Elas usavam dinheiro, cheque, cartão, era muito fragmentado e isso nos incomodava demais, achávamos que poderia ser melhor. A tecnologia ficava cada vez mais disponível e, através do smartphone, a internet móvel chegava cada vez para mais pessoas e foi aí que vimos uma oportunidade enorme de transformar a forma como as pessoas se relacionam com dinheiro. Começamos a testar isso mesmo sem muita certeza se as pessoas queriam usar. Nossas fases iniciais eram de product market fit para ver a aderência ao produto. Naquela época, para o que o PicPay era, não existia nada do ponto de vista regulatório que pudesse caracterizar a atividade. Era uma zona cinzenta, mas, por volta de 2013, o Banco Central lançou o marco regulatório de arranjos de pagamento e começamos a ver que nos encaixávamos no sistema brasileiro como uma conta de pagamento. Ao longo dos anos, encontramos o market fit. A possibilidade de enviar dinheiro de forma muito fácil entre pessoas através do celular teve aderência e se provou, de fato, algo concreto, tanto que o Pix surgiu e sem nem saber que ele existiria, começamos a fazer o que ele faz hoje, em 2012. De fato, o mercado amadureceu, as fintechs começaram a surgir e, hoje, temos bastante concorrentes. O cenário competitivo mudou de lá para cá e estamos em uma fase de consolidação de liderança para posicionar o PicPay como a ferramenta número um para pagamentos no dia a dia, se alavancando pelo Pix e pelo Open Banking, e se mantendo como uma das principais fintechs do Brasil, principalmente porque começamos muito cedo, antes dos outros. Tivemos a oportunidade de falhar bastante e tentar muita coisa.

Anderson Chamon, fundador e vice-presidente de produtos e tecnologia do PicPay (crédito: Arthur Nobre)

M&M — O PicPay se apresenta como transformador do mercado. Como vocês trabalham para isso?
Chamon — O impacto que causamos é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que somos capazes de alcançar. Não adianta ter um produto disruptivo, que propõe algo muito inovador, mas que tem poucas pessoas usando. A transformação que o PicPay causa no ambiente está muito ligada à quantidade de pessoas que têm utilizado os produtos. Para impactar e transformar o sistema, precisamos atingir muitas pessoas. Hoje, temos 55 milhões de usuários na base, crescendo a um ritmo muito acelerado e com o objetivo de chegar o mais rápido possível a 100 milhões de clientes. E, aí sim, transformamos a sociedade e o mercado à nossa volta, porque destravamos muitos casos de usos novos. O PicPay é um produto que tem efeito de rede, ou seja, quanto mais pessoas trazemos, melhor o produto fica para nossa base. Um exemplo disso são as redes sociais, se você tem o único usuário do WhatsApp ou no Instagram, ele não tem muito valor. Agora, quando mais pessoas utilizam aquele produto, melhor ele fica para os seus usuários.

M&M — Como a tecnologia está mudando o mercado financeiro e quais tendências estão surgindo?
Chamon — A tecnologia é o grande desbloqueador para as inovações. A evolução tecnológica nada mais é do que desbloqueios para que uma mudança surja em cima daquilo. A mobilidade é um exemplo disso. Hoje, pedimos um carro na rua porque a internet e os smartphones foram criados. O PicPay também surgiu dessa forma. Só existimos porque o smartphone está cada vez mais no bolso das pessoas e a internet cada vez mais disponível, e essa é uma transformação para o mercado financeiro como um todo. Outras tecnologias, como o 5G, serão desbloqueadoras. Ele entrega uma velocidade muito mais alta de tráfego de internet, o que permite que os dispositivos móveis trafeguem com mais velocidade e, assim, desbloqueiem novos usos e disrupções para o sistema financeiro. O Pix e o Open Banking também são tecnologias, eles são inovações que ajudarão na construção de novas coisas. Quando o PicPay surgiu, para entregarmos o valor para os nossos usuários, precisávamos de muitos pontos de venda, estabelecimentos e usuários conectados para você conseguir mandar dinheiro para qualquer um de forma fácil. O Pix é uma inovação que credencia todo mundo instantaneamente, então, isso facilita com que novos negócios possam surgir.

M&M — Como o Open Banking impactará o mercado?

Chamon — Ele tem um papel fundamental para a evolução do sistema porque muda drasticamente a forma como a relação dos usuários se dá em relação aos prestadores de serviço. Atualmente, o meu histórico bancário pertence ao banco que sou correntista, o que fortalece a relação e me prende a ele, pois consegue entregar um valor maior. Como cliente, tenho pouca competitividade em relação a minha vida financeira, isso é ruim. Mas o Open Banking muda isso, eu passo a ser o dono dos dados e toda a relação financeira que eu tive com qualquer instituição nos últimos anos passa a ser minha. Assim, pego essa informação, entrego para outro banco e ele é capaz de oferecer serviços financeiros conhecendo o meu histórico. No PicPay, o objetivo estratégico é se tornar um grande agregador de serviços, abstrair a relação bancária em um único serviço e, assim, independentemente de qual banco você tem conta, poderá usá-lo com uma camada de interface de experiência com o banco. O Open Banking permitirá que o usuário consiga se conectar com qualquer banco que seja correntista e ter essa experiência no PicPay, organizando toda sua vida financeira e criando uma única interface de experiência. E é a experiência que mandará nesse novo jogo, ela é o ponto mais importante de toda essa transformação. Quem entregar a melhor experiência para o usuário, é quem o terá no seu dia a dia. No passado, existiam outras amarras que o prendiam a uma instituição financeira, seja a relação de tempo com ela ou a agência mais próxima de casa, mas isso mudou. Agora, a agência está no smartphone. Assim, o Open Banking nos dá a possibilidade de oferecer uma experiência incrível para o usuário, independentemente da instituição financeira que ele tenha relação bancária.

M&M — O PicPay apresentou a função de bate-papo e declarou o desejo de transformar a base de usuários em uma comunidade social. Qual é a importância desse movimento?
Chamon — Apesar de isso ainda não ser tão óbvio, desde o começo acreditamos muito no poder da combinação de features sociais com o uso do dinheiro. A maior parte das transações que fazemos têm interações sociais por trás, seja um dinheiro que você paga a um amigo por um churrasco, um almoço ou uma viagem. As redes sociais sempre estiveram muito próximas das transações financeiras e o que estamos fazendo, com o chat de início, é trazer essas interações que estão em torno dos pagamentos para dentro do produto. Vimos que o usuário, muitas vezes, fazia um pagamento no PicPay e depois terminava ou começava uma conversa no WhatsApp ou em outra rede, faz sentido isso estar no app. Com isso, trazemos muito mais relevância para o usuário, deixando de ser um produto meramente transacional que você abre só para fazer um pagamento e passa a ser um produto mais emocional, conectado com o usuário, por conta das relações sociais inseridas. E isso nos destrava um caminho para oferecer diversos outros produtos que sejam mais ligados ao mundo de rede social do que ao mundo bancário propriamente dito. Sempre acreditamos muito nessa combinação e vamos investir nisso com o objetivo de nos tornarmos um super app, porque a partir do momento que você faz os seus pagamentos aqui, interage socialmente, faz compras e utiliza seus bancos dentro do PicPay, você deixa de ter a necessidade de baixar diversos outros aplicativos. Para nós, esse é o conceito de um super app, um aplicativo que quando você baixa, substitui outros.

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