Facilitador digital
Julia Rueff, diretora-sênior de marketplace no Mercado Livre Brasil
Julia Rueff, diretora-sênior de marketplace no Mercado Livre Brasil
Taís Farias Ribeiro
Criado em 1999, o Mercado Livre tem mais de 75,9 milhões de usuários ativos, 12 milhões de vendedores e alcança 29 vendas por segundo, de acordo com dados internos. Mas, muito além de plataforma de marketplace, o Mercado Livre se posiciona como companhia de tecnologia para e-commerce e serviços financeiros na América Latina, que oferece soluções para que pessoas e empresas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos e serviços por meio da internet. Longe de apenas competir, o nativo digital quer ser facilitador para a entrada das empresas no mundo digital e, simultaneamente, melhorar a experiência para os consumidores. Julia Rueff, diretora-sênior de marketplace no Mercado Livre Brasil, detalha como a companhia já se preparava para o consumidor omnichannel, mesmo antes da pandemia, e as estratégias das verticais.
Meio & Mensagem — Qual é o momento de Mercado Livre no Brasil, ou seja, como
tem se estruturado no País?
Julia Rueff — O papel que ocupamos é de liderança absoluta dentro do mercado (de e-commerce). É um cenário bastante competitivo e viemos, desde 2017, como líder e reforçando a liderança a cada ano. Dentro da liderança do e-commerce, temos um grande papel de ampliar a atuação como motor de desenvolvimento socioeconômico no Brasil. Nosso ecossistema permite que os varejistas se conectem ao nosso negócio e tenham acesso ao maior tráfego de e-commerce do Brasil. Temos olução de ecossistema muito rica, passando por setores logísticos, meios de pagamento, publicidade e alguns outros que permitem aos vendedores conseguir atuar no e-commerce em pé de igualdade com grandes companhias. Além disso, como grande empregador, já temos mais de dez mil colaboradores no País. Esse ano vamos investir R$ 10 bilhões só na operação do Brasil.
M&M — O varejo avançou em digitalização. De que maneira isso impacta um nativo digital como Mercado Livre? Como a companhia entende fidelização nesse contexto?
Julia — A pandemia antecipou em alguns anos o que tínhamos de perspectiva de evolução do e-commerce no Brasil. Para o Mercado Livre, isso foi muito positivo. Primeiro porque, com perspectiva de aumento de penetração de e-commerce cada vez maior, já vínhamos estruturando a operação de ecossistema para os próximos anos que viriam. Vínhamos nos preparando para um futuro mais distante. Quando a pandemia chegou com todo esse volume de pedidos, de pessoas novas comprando online e aumentando suas compras, nos vimos testando a operação do que estava sendo preparado para o futuro. E a operação se provou muito eficiente dentro desse contexto. A digitalização de players de varejo neste segmento é muito positiva. Isso atrai novos compradores para o online e essas empresas conseguem encontrar no Mercado Livre um facilitador para entrar no mundo digital, com muitas ferramentas prontas para servi-los. Mercado Envios, por exemplo, unidade de negócios de logística, tem soluções para melhorar a experiência dos consumidores e vendedores. São mais de 12 milhões de vendedores dentro da plataforma. Então, conseguimos oferecer entregas rápidas de forma democrática para todos os vendedores. O
pequeno vendedor, que tem um negócio completamente físico e quer aderir ao digital, vendendo através do Mercado Livre e usando a plataforma de envios, consegue ter nível de serviço de excelência, muito rápido, coisa que, se fosse desenvolver internamente, tomaria muito tempo. Mercado Pago é a mesma coisa. Com a missão de democratizar o acesso aos serviços financeiros de pagamento, contribui para a inclusão financeira e a capacidade de empreender na região. Concentra mais de 60 milhões de pagantes únicos e oferece solução completa de tecnologia financeira para o vendedor. Oferece crédito, seguros, serviços de pagamento online. Tem também soluções para varejo físico, maquininhas, soluções de QR Code. São uma série de produtos para viabilizar serviços financeiros online e modernização dos serviços offline de pagamento. E temos o Mercado Shops. Muitos vendedores têm seus negócios off-line ou têm vontade de empreender no online. Fornecemos a plataforma que disponibiliza soluções para criação de lojas próprias, com ferramentas de design, URL e aparência de marca, totalmente integrada ao ecossistema do Mercado Livre, gerando canal de venda simples e integrado.
M&M — Parcerias, como com o Grupo Pão de Açúcar (GPA) e Deezer, têm sido movimentos relevantes no Mercado Livre. Como devem evoluir?
Julia — O GPA é um excelente exemplo de parceria que deu muito certo e que veio para alavancar uma categoria que teve um boom com a pandemia. A pandemia fez com que as pessoas passassem a comprar pela primeira vez online ou aumentassem o número de compras no digital. Uma mudança de comportamento bastante importante em supermercados é, talvez, a mais emblemática. As pessoas sempre gastaram tempo durante a semana ou o mês para ir ao supermercado e fazer compras. Agora, descobriram que é possível fazer compras sem gastar tanto tempo de forma física. Antecipamos o lançamento da categoria de supermercados que já estava prevista, na verdade, para um pouco mais à frente por causa dessa mudança de comportamento. E a parceria com o GPA tem importância grande porque traz um sortimento relevante desse segmento, uma marca reconhecida. Ao mesmo tempo que os clientes Mercado Livre, que já são acostumados com a plataforma e tem recorrência de compra, conseguem resolver a vida, inclusive com relação a supermercados no mesmo lugar. É uma parceria muito estratégica e temos várias outras, como Deezer, de conteúdo de música, fazendo esse papel de tornar o Mercado Livre um ambiente muito completo para qualquer decisão de compra.
M&M — Como vocês encaram o conceito de ecossistema e de que maneira isso deve se desenvolver?
Julia – Temos o ecossistema mais robusto da América Latina, com todas as unidades de negócio. E o ecossistema tem, realmente, capacidade de alavancar negócios. Se você pensar, por exemplo, em vendedor do varejo físico que usa uma maquininha Point para pagamentos, damos a possibilidade para que ele tenha a conta digital, que consiga criar sua própria plataforma e passar a vender online. Essa plataforma, conectada com o Mercado Livre, permite que ele possa usar toda a rede logística. Na exposição dos seus produtos na plataforma, ele consegue impulsionar através do Mercado Ads. É uma plataforma feita para a alavancagem de negócios dos vendedores e para criar experiência de compra cada vez melhor para os compradores.
M&M — Nesse sentido, quais são os fatores avaliados para lançar soluções que possam agregar esse ecossistema?
Julia — Nosso mindset é sempre de democratização do comércio eletrônico e acesso ao dinheiro. Se pensarmos em comércio eletrônico, especificamente, todos os investimentos e tudo o que planejamos de novos produtos ou melhoria está no sentido de conseguir oferecer o maior e o melhor sortimento de produtos para os consumidores do Brasil e fazer com que essas compras cheguem de forma rápida, com facilidade de pagamento e usabilidade, em qualquer canto do Brasil. Entendemos isso como, realmente, democratizar o comércio eletrônico para o consumidor final e, quando falamos disso para o vendedor, significa dar a ele a possibilidade de digitalizar seu negócio, caso ainda não esteja digitalizado, ou alavancar, dando acesso ao maior tráfego do e-commerce, que dificilmente qualquer rede física ou site individual poderia ter. Tem, ainda, a facilidade de pagamento, antifraude, logística, publicidade. Oferecemos serviço completo para que o vendedor tenha que somente focar no seu core, que é vender os produtos especializados.
M&M — Em 2020, o Mercado Livre reposicionou a plataforma de publicidade com o Mercado Ads. Quais são os planos para essa vertical?
Julia — Reformulamos a plataforma de publicidade para criar identidade de marca, com novas soluções para os anunciantes. O Mercado Ads vem se
consolidando como parceiro estratégico de publicidade e de negócio para marcas, agências, anunciantes e vendedores que têm interesse em alavancar a visibilidade dentro e fora da plataforma. Entendemos a missão de Mercado Ads como ajudar a construir marca e alavancar vendas. São ferramentas desenvolvidas para os anunciantes poderem ganhar mais espaço na fatia de mídia digital, gerando mais conhecimento de marca, principalmente para consumidores que já estão nesse baixo funil e, consequentemente, com mais conversão de venda. Vamos seguir expandindo essa atuação e nos aproximar da marcas, dos vendedores e das agências. Temos trabalhado em propostas criativas e eficazes para os negócios dos parceiros. Ainda este ano, teremos novidades em termos de produtos e soluções para os anunciantes.
M&M — Quais tendências e tecnologias emergentes têm potencial para moldar o futuro do varejo digital?
Julia — O consumidor está mais digital e, com esse novo uso dos meios eletrônicos, ficou mais exigente. Vejo o caminho para o mercado digital com mais oferta. Empresas se aproximando do online e desse consumidor, que passa a ser muito mais omnichannel a partir do momento em que consome digitalmente produtos e serviços. Vejo isso como algo irreversível. A pandemia mudou o comportamento do consumidor e, com a população vacinada, não vejo retrocesso nesse sentido. Vejo o consumidor omnichannel, consumindo online e off-line, com as empresas acompanhando essa mudança, seja através de maior adesão de marketplaces, como o Mercado Livre com todas as soluções completas, ou suas próprias soluções, aderindo a novas ferramentas de comunicação, como o live commerce e outras que têm aparecido e crescido. Ao mesmo tempo, novas soluções de pagamento online também ganham força. Ter os vendedores com acesso a crédito através dessas plataformas, meios de pagamento online, carteira digital e tudo que acompanha a evolução desse e-commerce. Acho muito difícil que empresas que não consigam evoluir dessa maneira consigam atender bem o cliente e manter seus negócios de forma saudável daqui em diante.
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