Guilherme Fernandes
Criada em 2013, a plataforma de ensino online eduK foi adquirida pela Mind Lab em 2021. O principal objetivo da companhia é ampliar sua atuação para o desafio duplo que o Brasil enfrenta: educar para o futuro e resolver os débitos do passado, com a geração de renda. Segundo Ivan Pereira, vice-presidente da Mind Lab e responsável pela eduK, o objetivo, a partir da aquisição, é levar um milhão de usuários à geração de renda até 2024 e dobrar o faturamento de R$ 20 milhões nos próximos três anos. O caminho para tal é não apenas levar conhecimento técnico como desenvolver novas habilidades e capacitar para a resolução de problemas dos mais variados tipos.
Meio & Mensagem — Qual é sua avaliação do setor de edtechs considerando sua interface com os gargalos da educação brasileira?
Ivan Pereira — Edtechs têm um enorme potencial de mercado no Brasil, mas uma das principais dificuldades é que a maior parte desse setor está concentrada em governo ou players consolidadores como Cogna e, se você não trabalhar com as escolas públicas, a empresa não terá um impacto onde realmente estão as dores e agruras econômicas e sociais do País.
M&M — Quais são as principais transformações em curso no setor?
Ivan — Serviços financeiros são o presente. O Educbank (que oferece serviços como garantia de recebimento integral de mensalidades, softwares de gestão escolar, contabilidade e marketing), por exemplo. Inclusão produtiva deverá ser o futuro. Um grande problema da sociedade é ter mais pessoas participando da economia e encontrando novos caminhos para isso. Produtos que entreguem soluções para isso serão o futuro, desde academias de programação, engenharia de software e inovação, como Escola 42 (escola de programação baseada em aprendizagem coletiva).
M&M — Quais foram os principais resultados alcançados pela eduK?
Ivan — A plataforma já impactou mais de cinco milhões de pessoas através de trilhas de conhecimento com cerca de 3,2 mil cursos, nove horas de conteúdo e 1,1 mil especialistas. Nossa projeção é dobrar o faturamento de 2020 — que foi R$ 20 milhões — nos próximos três anos. No primeiro semestre, a plataforma contabilizou 51 mil novos cadastros. E os cursos mais procurados ficam entre a área de negócios e de gastronomia. Historicamente, o perfil de pessoas que procuraram pelas trilhas do conhecimento tem entre 36 e 45 anos, e são mulheres. As profissões registradas mais frequentemente são artesanato, estudante, professor, confeitaria e do lar. Pesquisa realizada no início do ano com amostragem desse público, constatou que 53% das pessoas que buscaram a eduK queriam ganhar dinheiro vendendo algo que produzem, com um serviço que executam, ou abrindo o próprio negócio. 18,5% desejavam conseguir emprego e 12,16% já tinham um negócio e desejavam expandi-lo. Quase um terço estava desempregada. Outro público que está relacionado à plataforma é aquele que se candidata a uma das 15 mil vagas de trabalho divulgadas por empresas parceiras. Desde o lançamento, foram mais de 100 mil aplicações a vagas e mais de 50 mil pessoas geraram renda a partir dessa iniciativa. Ao final do primeiro semestre, colocamos uma nova plataforma no ar: a eduK Gerando Renda, cuja intenção é ser um guia para ajudar as pessoas a ganhar dinheiro. Seja gerando renda por conta própria, através dos cursos e descontos em parceiras, ou por meio de oportunidades de trabalho formais.
“A cada dólar investido no desenvolvimento de habilidades socioemocionais ainda na educação básica, cerca de US$ 11 são devolvidos para a sociedade na forma de economia de gastos públicos”, diz Ivan Pereira (crédito: Arthur Nobre)
M&M — Quais são os principais desafios para a atuação da empresa?
Ivan — Especificamente na geração de renda, principal foco da eduK, o cenário é bastante preocupante, já que temos 40 milhões de brasileiros à margem da economia, com quase 12 milhões de desempregados, 4,9 milhões de desalentados e os trabalhadores informais, que somam mais de 25 milhões. Embora seja um grande desafio, estamos amparados em estudos que comprovam a real necessidade de investirmos em educação e formação técnica para a inserção de camadas mais vulneráveis da sociedade no mercado de trabalho. Pesquisa da Universidade de Columbia (EUA) mostrou que a cada dólar investido no desenvolvimento de habilidades socioemocionais ainda na educação básica, cerca de US$ 11 são devolvidos para a sociedade na forma de economia de gastos públicos, sobretudo os que estão relacionados à assistência social, segurança pública e saúde.
M&M — Existe a impressão de que cursos online, como os da eduK, ainda não são acessíveis à maioria da população, que tem dificuldade de acesso à internet, além de problemas com leitura e interpretação de texto. Como ampliar esse acesso?
Ivan — De fato, o nosso público-alvo é composto por camadas mais vulneráveis social e economicamente, como as classes C, D e E. Sabemos da dificuldade dessas pessoas em investir na sua formação, ainda que seja extremamente importante. Mas além de valores acessíveis, com parcelas de R$ 30, que dão direito a mais de três mil cursos, com chats ao vivo, e-books e participação de experts, há a versão gratuita, para usuários à procura de vagas. Customizamos a jornada da pessoa baseada nos interesses dela para conectá-la à renda.
M&M — O que motivou a Mind Lab a adquirir a eduk?
Ivan — A Mind Lab tem sua atuação voltada à educação pública, apesar de ter clientes na área privada. Líder em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de impacto social, criou uma solução para ajudar a mudar o cenário brasileiro de defasagem educacional e geração de renda. A partir da aquisição, agregou ao seu foco o objetivo de levar um milhão de usuários à geração de renda até 2024, permitindo que mais pessoas aprimorem habilidades e busquem conhecimentos a qualquer momento ou dispositivo, com preço acessível. Desde sua fundação, em 2006, já atuou com instituições de ensino do setor público e privado e capacitou mais de 185 mil professores para aplicação de suas metodologias, em mais de 17 estados, impactando 5,6 milhões de alunos e famílias. Assim como a eduK, em 2020, a Mind Lab foi reconhecida pela HolonIQ, plataforma norte-americana de inteligência para educação, como uma das 100 startups em educação mais inovadoras da América Latina.