“É impensável querer lidar com os desafios de forma analógica”

Daniel Pires, cofundador e coCEO da Cortex, falou sobre negócios disruptivos, contribuições das martechs ao mercado e desafios para a inovação no País

Líder em inteligência artificial e big data para marketing e vendas na América Latina, a Cortex nasceu na incubadora da PUC-Rio, em 2003, e recebeu um dos maiores investimentos de inteligência artificial (AI) da região Latam — R$ 170 milhões —, 17 anos depois. De início baseada em consultoria sobre inteligência de dados, a startup percebeu a força da transformação digital que se aproximava e migrou para o modelo SaaS (software como serviço). Cofundador e coCEO da empresa, presente no ranking das top 10 martechs do Brasil e com clientes como Visa, iFood, Vibra Energia e Bradesco, Daniel Pires falou sobre negócios disruptivos, contribuições das martechs ao mercado e desafios para a inovação no País.

Daniel Pires, cofundador e coCEO da Cortex (Crédito: Raphael Monteiro)

Meio & Mensagem — Qual é a história do nascimento da empresa?
Daniel Pires — A história sobre o início da Cortex é interessante porque eu e o Leonardo Rangel (cofundador e coCEO) somos primos. Tivemos bastante proximidade na infância, mas acabamos nos distanciando na adolescência. Por ironia do destino, anos mais tarde entramos para a mesma turma de engenharia elétrica da PUC-Rio, onde começamos a trabalhar em um grande projeto de consultoria de pesquisa de mercado na empresa júnior da universidade. Foi ali que a empresa começou.

M&M — E a virada para um negócio SaaS, como foi?
Pires — Alguns anos mais tarde, depois de visitarmos o Vale do Silício, decidimos transformar a Cortex, que era uma empresa de serviço, em uma empresa de produto. Oferecemos hoje uma plataforma focada em soluções para as áreas de comunicação, marketing e vendas, que permite capturar dados internos e externos para fazer análises com uso de ciências de dados.

M&M — A pandemia impulsionou o negócio? E as captações?
Pires — A Cortex dobrou de tamanho em 2021 e vem seguindo esse mesmo ritmo de crescimento em 2022. Neste ano, chegamos a 300 colaboradores e, como uma empresa de SaaS, temos clientes em todo o território nacional, na América Latina e na Europa. Sobre captações, recebemos duas grandes rodadas de investimentos. Juntos, os aportes totalizaram aproximadamente R$ 200 milhões.

M&M — Quais foram as principais inovações que a empresa trouxe para o mercado brasileiro de comunicação e marketing?
Pires — Por sermos pioneiros em soluções para o segmento de comunicação estratégica e reputação, entendemos que o valor do trabalho dessa área está relacionado à sua capacidade de gerar resultados palpáveis para o c-level e o board de uma empresa. Por isso, nossa plataforma oferece um data storytelling compreensível e significativo, que transforma dados em ações ou insights acionáveis, de forma personalizada, para os objetivos de negócio da empresa. Já nossa solução de inteligência de vendas B2B possibilita o cruzamento de dados de mais de 17 mil fontes em modelos estatísticos capazes de capturar e sistematizar informações que antes estavam dispersas, desestruturadas ou até mesmo inacessíveis. A plataforma permite encontrar novos leads B2B mais qualificados, mapear o mercado e o cliente ideal, melhorar taxas de conversão e ter maior previsibilidade de receita, entre tantas outras informações que antes só era possível obter com muito tempo e trabalho.

M&M — A inovação precisa ser constante dentro de uma startup?
Pires — Nosso esforço de inovação é constante. Neste ano, inovamos mais uma vez com o lançamento das funcionalidades Tendências de Comunicação e Bolhas de Informação. Com a primeira, você pode acompanhar os principais assuntos debatidos pela imprensa e pelos influenciadores. Ela também entrega aos profissionais de comunicação uma visão ampla e inédita do caminho que as pautas percorrem e como ganham repercussão. A segunda permite acompanhar a agenda da sociedade, por meio dos principais grupos de líderes de opinião — políticos, influenciadores, jornalistas, ONGs, entidades —, e a repercussão de temas nas bolhas ideológicas progressista, centro e conservadora.

M&M — As martechs brasileiras estão ajudando, de fato, a transformar o marketing? Quais contribuições elas trouxeram ao setor?
Pires — Eu diria que essa é uma revolução tecnológica que acontece no mundo corporativo de forma geral, e os setores de marketing e comunicação não ficaram de fora. A digitalização cada vez maior de diversas atividades já era uma tendência e foi acelerada pela pandemia. O volume de dados cresceu, os consumidores tornaram-se mais exigentes e os desafios de crescimento das empresas, mais ousados. Então, seja para aumentar as vendas e gerar mais receitas ou para trabalhar a reputação da empresa, influenciando a percepção da sociedade e o valor da marca, hoje em dia é impensável querer lidar com esses desafios de forma analógica. Falando pela Cortex, posso dizer que essas tecnologias chegaram para simplificar os principais desafios de crescimento de forma inteligente.

M&M — No Brasil, quais são os maiores desafios para o ecossistema de inovação? Por onde passam as soluções?
Pires — O Brasil tem um grande mercado interno, cheio de ineficiências e burocracias que se apresentam como oportunidades para a criação de novas startups e de novas tecnologias para solucionar esses problemas. Além disso, o país já teve uma geração de maturidade das primeiras startups. Hoje temos empreendedores de segunda e até de terceira gerações. Ou seja, empreendedores que já comandaram uma geração das primeiras startups que escalaram e vários unicórnios que surgiram. Isso traz muita expertise e qualidade de material humano para a região. Embora o país esteja, atualmente, passando por um período de adversidades, enxergo o Brasil como um ambiente muito propício para a inovação. É fato que, nos anos anteriores, havia uma abundância de capital no mundo, facilidade de captação de recursos e valuations mais esticados. Essa tendência se inverteu drasticamente neste ano. Mesmo assim, continuo vendo o país como um ótimo local para o florescimento de novas startups, para a inovação e a criação de novos produtos e empresas. A indústria de venture capital, que há alguns anos era praticamente inexistente, se desenvolveu muito. Já existem também venture capitais internacionais olhando o mercado brasileiro.

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