De mente aberta para o novo
Jean Borges, presidente da Algar Telecom
Jean Borges, presidente da Algar Telecom
Thaís Monteiro
Aos 67 anos de operação, a Algar Telecom não se deixa abalar pela carteirinha de 65+. A empresa desenvolveu estratégia de digitalização que envolve novas metodologias de trabalho com a inovação e o cliente no centro, tem parcerias com startups — já realizou trabalhos com 78 — e atua no desenvolvimento de sistemas inteligentes e conectados. Presente em 72 cidades, em 16 estados do Brasil e no Distrito Federal, a operadora tem 168 mil clientes no B2B, dos quais 151 mil são pequenas e médias empresas (PMEs) e 17,4 mil são grandes. Seus sistemas de franquias focados no B2C têm viabilizado investimentos e oferta de banda larga em alta velocidade em mais cidades. De acordo com Jean Borges, presidente da Algar Telecom, graças a esse modelo, a empresa aumentou em 36% a base de clientes no período e está em 81 cidades na área de concessão e em 15 cidades fora dessa área em expansão. Durante a pandemia, tem focado em soluções para que os PMEs empreendedores se adaptem à aceleração digital. Recentemente, a Algar tem se concentrado em conquistar mais clientes PMEs e criar soluções para o segmento.
Meio & Mensagem — Por que é importante atender a pequena e média empresa? Qual é o mercado potencial nessa categoria?
Jean Borges — Para micro e pequenas empresas, a Algar Telecom oferece uma série de soluções de voz e dados, cloud computing, outsourcing, TI e videoconferência. Ao final do 2º trimestre deste ano, a companhia contava com uma base de 151,1 mil clientes. Atendemos esse segmento de forma distinta no mercado, com produtos, soluções, atendimento e suporte pensados especificamente para seu perfil e porte. Isso é um diferencial, uma vez que esse cliente tem necessidades muito específicas e precisa de suporte na infraestrutura e digitalização. Por isso, nos especializamos em entregar soluções que apoiem o empreendedor em sua jornada digital para que tenha sucesso em seu negócio.
M&M — A empresa tem parceria com a Drive On para transformar veículos comuns em smart car, além de ter seu próprio centro de inovação e trabalhar na ampliação de sua plataforma de internet das coisas (IoT). Qual é a importância de se estar atento a esses movimentos mais inovadores, como sistemas inteligentes? E como a Algar trabalha nesse sentido?
Borges — Como uma empresa com mais de 67 anos de legado, a Algar Telecom sentiu a necessidade da transformação digital e, em 2017, criou o centro de inovação Brain, em estrutura apartada. Além de pensar novos modelos de negócio, um dos principais objetivos do Brain era promover a renovação do modelo de trabalho. Por isso, colaboradores da Algar Telecom passavam um período de seis meses no Brain, conduzindo projetos de inovação dentro de metodologias ágeis, e depois disso retornavam para a Algar Telecom, trazendo esse novo jeito de trabalhar. Após essa experiência inicial, entendemos que não fazia sentido as pessoas voltarem para a estrutura tradicional. Foi aí que criamos, em dezembro de 2018, a Estação Algar Telecom, com times multidisciplinares e uma missão de entrega (como aumentar NPS com cliente, por exemplo). Tanto o Brain quanto a Estação foram fundamentais para o processo de transformação digital da companhia, para a resolução de problemas dos clientes e geração de negócios inovadores. Agora, temos um modelo de cocriação, no qual os clientes participam de todas as etapas do processo, desde a ideação, para identificarmos suas principais dores, até o final de cada ciclo curto de melhoria e entregas de cada solução. É isso que guia nossas decisões de inovação.
M&M — Para uma empresa tradicional, quais são os desafios para inovar?
Borges — Para as empresas que nasceram no modelo de gestão tradicional, a jornada rumo à transformação digital envolve muitos desafios. Dentre eles, o mais importante é a mudança de mindset para colocar o cliente no centro. Na Algar Telecom, o cliente passou a desempenhar um papel ainda mais fundamental em todas as etapas. Para que tudo isso se tornasse natural para os colaboradores, implementamos uma série de iniciativas para estimular habilidades e comportamentos esperados dentro do mindset ágil. Foram trabalhados intensamente conceitos como autonomia, protagonismo e espírito colaborativo. Em um cenário tão competitivo e no qual as empresas têm produtos e soluções por vezes tão similares, atuar com esse foco se tornou um grande diferencial para a Algar Telecom.
M&M — Qual é a relação da empresa com as startups?
Borges — Além de promover a renovação do modelo de trabalho, o centro de inovação Brain nasceu com o propósito de pensar novos modelos de negócio e as startups têm sido parceiras fundamentais nesse percurso. Atuamos da seguinte forma: identificamos necessidade ou problema do cliente e colhemos seu feedback constantemente, do início ao fim. Na sequência, para o desenvolvimento de soluções que resolvam suas dores, utilizamos o modelo de Open Innovation, no qual a inovação acontece em colaboração com agentes externos, como startups, universidades, parceiros, colaboradores e clientes, entre outros. Por meio do Brain, a Algar Telecom realiza programas estruturados de acesso à startups, como o Brain Open, levando os desafios de digitalização da empresa para o ecossistema. Por meio desse programa, trazemos geração de valor para essas startups. Uma vez que passam por mentoria com executivos do Brain, da Algar Telecom e de parceiros, ganham escala por ter acesso aos clientes da Algar Telecom; aceleram o go to market com a força de vendas da Algar; vivenciam as metodologias Agile e Lean; e conquistam velocidade no desenvolvimento de novos negócios. Desde a sua fundação, o Brain, em parcerias com startups, criou plataformas de gestão financeira e fiscal para micro e pequenas empresas, de monitoramento de equipamentos hospitalares, de segurança digital, entre outras. Por meio do Brain Open, a Algar Telecom já avaliou mais de 500 startups e realizou negócios com 78 delas.
M&M — De que forma a Algar se prepara para a chegada do 5G?
Borges — A companhia já tem boa parte de sua infraestrutura adequada ou de fácil adequação para uma possível oferta do serviço 5G. Quando falamos nessa tecnologia, pensa-se muito em investimentos em acesso (compra de frequência e implantação de estações rádio base), mas também são exigidos grandes investimentos em estruturas de backhaul, core de rede e plataformas de serviço. No mais, seguimos atentos às evoluções regulatórias e ao andamento e detalhamento das condições do leilão.
M&M — Em termos de novos serviços, o que o 5G pode prover às telecomunicações?
Borges — Com a chegada do 5G, acreditamos em enorme potencial transformador para o País e isso não será diferente na nossa região de atuação. O agronegócio deve ser uma das primeiras frentes impactadas pela nova tecnologia na área, mas, na sequência, teremos também grandes impactos em cidades inteligentes, centros de educação (escolas e universidades), além de empresas, à medida que se digitalizarem. Para o cliente final, teremos o melhor dos mundos, com nova experiência de velocidade e excelente possibilidade de navegação.
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